15.5.07

Emagreça já... a sua conta bancária!

Sheila era um tipo de garota normal. Loira, cabelos lisos, 1.65m de altura. O peso? Uns 75 quilos. Não era magrinha, mas também não preenchia os requisitos para uma vaga no "Fat Family". Não estava dentro dos padrões de beleza, confesso. Mas isso também não era nada desesperador. Costumava se aceitar do jeito que é, com exceção das vezes em que via bundudas e siliconadas nas novelas, programas de TV, propagandas e filmes. Nada, no entanto, que uma boa dose de simpatia não pudesse compensar... na teoria! Porque na prática a coisa não funcionava bem assim para ela.

Em tempos de magreza, bulimia, anorexia (e outras manias de adolescente), Sheila só queria o óbvio: emagrecer! Mas, como? Já tinha tentado todo tipo de dieta: a da sopa, a vegetariana, a do tipo sanguíneo, a dos solteiros... Como nenhuma funcionou conforme o esperado, ela resolveu malhar. E depois de quase duas semanas, viu que aquela não era, definitivamente, a sua praia. Pra que se sentir inferior em meio a tantos corpos sarados que só estavam ali para se exibir? Mesmo sabendo que era maior do que tudo aquilo, Sheila se sentia menor do que os outros.

Foi quando num dia desses em casa viu na TV uma bugiganga que prometia dar fim a sua angústia. Na propaganda, uma saradona qualquer, sentada numa sala de estar com um aparelho que dava choques no abdome, prometia barriga sarada em pouco tempo sem esforço algum. Quer dizer, o único esforço seria a paciência de ficar com aquilo algumas horas por dia...

Convencida pelos milagres que o aparelho prometia e, principalmente, pelo locutor que anunciava a promoção somente para os dez primeiros que ligassem, Sheila resolveu comprá-lo. Mas, quando ia pegar o telefone, novamente uma surpresa: outra mulher falava de milk shake que prometia reduzir medias em dias! No depoimento, a ex-gorda, que aparentava ter o peso que sempre teve, lia naturalmente seu testemunho: - emagrece mesmo! Olha como eu fiquei!?

Agora, como se já não bastasse uma, Sheila tinha duas opções. Afinal, qual seria mais eficiente? Qual traria o resultado mais rápido? Enquanto pensava na resposta, a TV bombardeava nossa Sheila com mais uma maravilha. Dessa vez, uma bermuda que tornava a pessoa magra não em dias ou minutos, mas em segundos. Praticamente um recorde. A promessa incluía ainda reduzir a celulite, deixar o bumbum mais duro, além de dois brindes: uma nécessaire e um gel redundantemente redutor, caso a pessoa não se contentasse somente com a bermuda. A essa altura, Sheila não tinha mais dúvidas: iria se endividar e ficar logo com todos!

Dito e feito. Os produtos chegaram em poucos dias. Com as novas maravilhas para perder peso, Sheila se sentia feliz e aliviada em saber que finalmente não precisaria mais freqüentar horas de academia ou fazer dietas mirabolante para ficar gostosa. Tempos depois, nada mudou. E Sheila voltou à antiga rotina de sempre. Depois de muito pensar no que poderia ter dado errado, ela, enfim, percebera que de fato algo havia emagrecido: a sua conta bancária. Enquanto isso, a dos vendedores que pregavam a magreza a qualquer custo só engordava...

6.5.07

EXÓTICO...

PUC, Rio de Janeiro. Durante uma das aulas de jornalismo, o professor perguntou à turma:

- Alguém sabe por que livros como “O caçador de pipas” fazem tanto sucesso no mundo inteiro, mais especificamente aqui no Brasil?

A indagação fazia parte de uma aula cujo assunto tratava do imaginário da sociedade. “Em detrimento de um conjunto de imagens particulares de um povo, o fenômeno da globalização juntamente com a banalização de certas imagens acabaria por fazer com que todo o planeta tivesse a mesma memória fotográfica” – explicava o professor.

A pergunta logo me remeteu a uma de minhas viagens aos Estados Unidos. Um dos cenários do parque temático que visitei era justamente a Arábia de Aladim. O local estava tomado por uma música ambiente tocada por flautas, sons de cobras, tendas, vasos de barro e figurantes no melhor estilo Alibabá. Tudo isto me fez remontar o antigo estereótipo de “uma terra distante e cheia de mistérios”.

Concluído o pensamento, respondi ao professor:

- Talvez porque ainda desconhecemos a cultura local daquele povo... talvez por se tratar de algo curioso, inspirador, enfim... EXÓTICO! ( Tentei não usar essa palavra, mas era a única que melhor resumiria nossa visão limitada sobre outras culturas. )

“Mais alguém teria mais alguma explicação para `O caçador de pipas` ser um best-seller aqui no Brasil?” – perguntou novamente o professor.

Dessa vez, o silêncio foi quebrado por uma voz feminina proveniente do fundo da sala:

- Porque saiu uma matéria na revista Veja, oras!

O silêncio se fez novamente na sala. Certamente, poderíamos pensar que se tratava de uma ironia, quem sabe. A convicção com que a aluna falou, no entanto, não me deixou dúvidas: aquilo era realmente a cena mais exótica que já tinha presenciado até então. Pior do que qualquer Arábia de Aladim!

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