8.12.07

GRAÇAS A DEUS!

Sexta-feira, tarde da noite. No ônibus, na volta do trabalho para casa, sentei-me, sem querer, do lado de um evangélico. Tinha a cabeça chata, era moreno, vestia uma calça cáqui com camisa social branca e estava com a bíblia na mão. Abri um livro para distrair; ele, a bíblia. Minutos depois, se levantou. “Deve estar indo embora”, pensei. Ledo engano. O rapaz tratou logo de falar de Jesus dentro do ônibus. Do meu lado e berrando em meu ouvido, embora nem eu ou Deus sejamos surdos! “Irmãos, eu vim aqui para trazer para vocês a palavra do Senhor”. Ninguém prestou atenção. Não só pela falta de interesse, mas também porque o rapaz falava baixo e, simplesmente, não lia, soletrava a bíblia.“E-je-su-i-z-di-çe-pa-á-ra-a-que-ê-les-que-né-le-e-e-crê-ê-e-i-m-vír-gu-ra...” Fiquei encucado.“Será que ele realmente sabia o que estava lendo?”, questionei. Tentava não ouvir mais aquilo, queria fugir. Mas nem minha única forma de escape, a janela, me ajudava. Quando olhava para o vidro, via seu reflexo. Perguntei a ele, então, o que era o tal PINGO que tanto falava enquanto lia a bíblia. “É um servo do senhor”, respondeu sem jeito. Fiquei quieto. Mas por pouco tempo. Depois de ouvir um “APA-ZI-GAR”, resolvi perguntar o que significava aquela palavra. O rapaz voltou ao trecho. “APA-ZIGA-RRAR, A-PA...” Depois de não conseguir ler, não me deu mais confiança. E como sou apaziguador, resolvi dar uma trégua. O blá blá blá parecia não ter fim. Antes que pudesse deixar o ônibus, ele disse: “irmãos, quem falou hoje aqui com vocês não fui eu, mas o espírito santo!” Felizmente, neste momento, meu ponto de descida tinha chegado. Ao sair, olhei para trás. O rapaz, apesar de ignorado, continuou a falar. Eu, ali parado no ponto, paradoxalmente, dava “graças a Deus” por não ter de aturar mais aquilo.

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